A caneta tem estado em repouso.
Deixo-me mergulhar no meu interior para resgatar as palavras adormecidas.
O toque parece não as despertar, como se recusassem transformar-se em algo com forma.
A sua essência mantém-se intacta, sem procurar uma expressão fugaz no tempo.
Procuro uma nova forma de as encontrar, deixando que a poeira se dissipe e me mostre as coordenadas.
Continuo a escrever, na esperança de as palavras guiarem o seu próprio caminho.
Deixo a tinta desenhar as letras, sem controlar a sua expressão.
Deixo-as ganharem forma, sem procurar a sua razão.
Deixo a razão de lado e entrego-me de coração.
Deixo que o coração me conforte, acolhendo as emoções também adormecidas no tempo.
Deixo-as ganharem forma, deixando as lágrimas fluírem no meu rosto.
Deixo as lágrimas escorrerem, arrastando consigo fragmentos de memórias cristalizados pelo tempo.
Deixo a água correr livremente, contornando os obstáculos.
Deixo-a seguir a sua corrente, desenhando novos caminhos por onde passa.
Deixo-a fluir, moldando-se a cada nova experiência.
Deixo a água banhar-me, fundindo-me com a sua essência.
Deixo algumas gotas flutuarem, levando consigo pedaços de ar.
Deixo bolhas de sabão ganharem forma, observando a sua leveza.
Deixo a água e o ar levarem pedaços soltos de mim.
Deixo a essência ficar e sorrio.
Deixo o sorriso despertar a criança adormecida dentro de mim.